Parar para pensar
Praticamente todas as escolas públicas e particulares, universidades e estabelecimentos de ensino em geral do pais Iniciaram o novo ano letivo. Uma grande interrogação, no entanto, nos convida a parar para pensar no desafio maior ainda pela frente: superar a curto prazo as deficiências do atual modelo de ensino brasileiro. A situação é tão grave que um estudo do Banco Mundial, recentemente publicado na revista Exame, coloca nosso sistema como o pior em relação ao dos países emergentes, competidores internacionais do Brasil: China, México e Rússia. Segundo esse estudo, 13% dos brasileiros ainda não sabem ler e escrever, enquanto que na Rússia o numero atinge apenas 0.5% da população.
Os índices são ainda mais alarmantes quando analisamos a repetência escolar. No Brasil, ela chega a 21%, já na China e na Rússia fica em torno de 0.3% e 0.8%. respectivamente. Isso porque, sem o acesso a uma educação de qualidade, parcela expressiva da população permanece excluída também de outros processos, que funcionam como variantes auxiliares para competir, em condições de igualdade, no mercado de trabalho. É o caso, por exemplo, do despreparo técnico e científico de nossos recursos humanos, que diminuem o poder de fogo do país em relação ás economias com as quais disputa o mercado global em plena era do conhecimento.
E as conseqüências são imediatas. Em uma economia sem fronteiras. outros países com uma oferta maior de trabalhadores qualificados tomam-se mais atrativos do que o Brasil, que tem participação de técnicos e de profissionais com curso superior no mercado de trabalho de somente 9%. Na Rússia, esse índice alcança 21% e, no México, para cada cem trabalhadores, 14 têm curso superior. E urgente, pois, reverter esse quadro do ensino no Brasil.
Recursos não faltam, o problema está na forma como são aplicados. Está provado que a educação exerce uma função estratégica no desenvolvimento econômico e social. E, lamentavelmente, o país continua a perder espaço na corrida global do crescimento. Só o Haiti está atrás de nós. Precisamos de menos discursos e mais ações efetivas. Caso contrário, o Brasil continuará, por um bom tempo ainda, como último da classe, e pior, repetente…
Autor: Victor Faccioni – Presidente do TCE-RS
Publicado no jornal Correio do Povo, dia 11 de março de 2007.